Loja de Aquariofilia e de Aquascaping
Hoje vamos falar sobre a desnitrificação no contexto do aquascaping — um tema que, até há poucos anos, raramente surgia nas conversas entre aquariofilistas. Isso porque, antigamente, as matérias filtrantes utilizadas não eram eficazes a criar zonas anaeróbias no filtro, fundamentais para o processo de desnitrificação.
As zonas anaeróbias são áreas com pouca ou nenhuma presença de oxigénio.
São cruciais para o desenvolvimento de bactérias anaeróbias, que são capazes de consumir nitratos (NO₃⁻) como fonte de energia, convertendo-os em gases menos tóxicos como óxidos de azoto (NO, N₂O) ou azoto molecular (N₂), que se libertam para a atmosfera.
É, portanto, o passo final do ciclo do azoto — e o que pode "fechar o ciclo do lixo" num aquário.
Nos aquários plantados modernos — com substratos ricos como aquasoil, fertilização líquida, injeção de CO₂, iluminação intensa, etc. — a filtração biológica normalmente também é de grande qualidade.
✔ É sinal de que estamos perante um setup de um verdadeiro aficionado, um aquariofilista moderno que gosta de estar na vanguarda do hobby — tal como a Soluções Aquáticas.
Atualmente, muitas matérias filtrantes de nova geração, como o MasterLine FilterMAX ou o Seachem Matrix, permitem a colonização simultânea de:
✔ Bactérias aeróbias no exterior do material (onde a água circula mais depressa e rica em oxigénio)
✔ Bactérias anaeróbias no interior dos poros (onde a água entra lentamente por capilaridade, com muito menos oxigénio disponível)
❖ Isto significa que, após alguns meses de funcionamento do aquário, é possível que se formem colónias estáveis de bactérias desnitrificantes dentro da matéria filtrante.
Tradicionalmente, o excesso de nitratos acumulava-se na coluna de água, vindo da decomposição da matéria orgânica (excrementos, restos de comida, plantas em decomposição) ou da sobrefertilização.
Hoje, com este tipo de filtração biológica, muitos aquários conseguem manter níveis de nitrato muito baixos — ✔ não por falta de nutrientes, mas graças à ação direta das bactérias anaeróbias que os eliminam.
✘ Pelo contrário! É extremamente positivo. Estas bactérias ajudam-nos a:
✔ Manter a água mais limpa
✔ Reduzir matéria orgânica dissolvida
✔ Controlar com muito mais precisão os níveis de nitrato que realmente queremos no aquário
Deixamos de contar com o que é gerado internamente — que muitas vezes podia desequilibrar o nosso plano de fertilização.
❖ Se queremos níveis baixos para, por exemplo, intensificar os tons vermelhos das plantas — como acontece com as Rotalas — agora conseguimos reduzir os nitratos até perto de zero com muito mais segurança.
Antigamente, era muito mais difícil conseguir plantas vermelhas sem a ação da desnitrificação.
⚠ Havia uma produção constante de nitrato que, mesmo que não acusasse nos testes, estava sempre a alimentar as plantas, impedindo que estas atingissem o stress necessário para mudar de cor.
Quando fertilizamos o aquário, adicionamos diferentes formas de nitrogénio:
• Nitrato (NO₃⁻)
• Amónio (NH₄⁺)
• Ureia (CO(NH₂)₂), que é convertida em CO₂ e amónio
Sem aprofundar agora esse tema — que ficará para outro artigo — é importante perceber que, no contexto da desnitrificação, o tipo de fertilizante que usamos faz mesmo diferença.
✔ Na minha opinião, é importante escolher um fertilizante que inclua fontes de absorção rápida de nitrogénio pelas plantas, como:
• Nitrato de amónio (onde o objetivo é o amónio)
• Ureia (que decompõe em amónio e CO2)
Em ambiente com luz intensa e CO₂, as plantas absorvem este nitrogénio rapidamente — antes da conversão bacteriana.
Se não o fizerem, o amónio será convertido em nitrito e depois em nitrato, voltando ao ciclo.
✔ Um dos fertilizantes com mais sucesso na Europa e em Portugal na potenciação de cores é o MasterLine All In One Lean.
Este fertilizante tem:
50% do nitrogénio proveniente de amónio (Ureia)
50% de nitrato
Com isso:
✔ Damos às plantas de crescimento rápido uma dose controlada de nitrogénio
✔ Fornecemos nitrato às plantas mais lentas
✔ A dose total é baixa → facilita intensificação das cores
⚠ Esta estratégia não seria possível sem desnitrificação, pois o sistema continuaria a gerar nitrato de forma lenta e constante.
Será este efeito de desnitrificação igual em todos os aquários?
✘ Não. Cada aquário é único.
Mas há um fator comum: o volume do aquário e o caudal do filtro.
• Um aquário 60P (60x30x36 cm) → filtro com menor caudal
• Um aquário 90P (90x45x45 cm) → filtro mais forte
Na prática: ✔ Desnitrificação tende a ser mais intensa em aquários pequenos com filtros de menor caudal.
⚠ A água passa mais devagar → mais zonas anaeróbias → mais bactérias desnitrificantes
Num filtro potente (ex: 4500 L/h), se a água circular demasiado depressa, o efeito será reduzido.
✔ É possível! Basta reorganizar internamente a filtragem para reduzir a velocidade da água.
A ideia é criar múltiplos caminhos e zonas de fluxo lento.
Dicas práticas:
Compactar moderadamente as matérias filtrantes
Usar granulometrias progressivas, por exemplo:
1º: Seachem Pond Matrix (maior dimensão)
2º: Seachem Matrix
3º: MasterLine FilterMAX
4º: Seachem DeNitrate (opcional)
✔ Com esta configuração, a água atravessa várias camadas, abranda naturalmente e permite o desenvolvimento de bactérias anaeróbias no interior.
✔ Aquário mais limpo e com menos matéria orgânica
✔ Menor acumulação de nitratos gerados pelo sistema
✔ Maior controlo sobre a fertilização
✔ Melhores cores nas plantas, especialmente os tons vermelhos
✔ Possibilidade real de fechar o ciclo do azoto de forma eficiente e natural
▸ Devemos testar nitratos com mais frequência, mesmo quando fertilizamos, nem sermpre por exemplo o MasterLine All In One Lean poderá ser suficiente a nível de nitrogenio, as vezes é necessário complementar à parte com um fertilizante só de nitratos ou até mesmo mudar de All In One.
▸ As plantas competem com as bactérias pelo nitrogénio disponível
▸ Um excesso de desnitrificação pode causar carência de azoto → crescimento travado, folhas pálidas ou amarelas
Texto publicado por Ivo Lança Soares 06/04/2025